quinta-feira, 12 de abril de 2012

Ainda bem que não fui o escolhido...

É impossível não se identificar com certas lembranças da juventude. E falo da juventude de qualquer um: as "panelinhas" formadas pelos nerds, atletas, músicos, arruaceiros e os "naturebas".
Parece um filme mil vezes reprisado da Sessão da Tarde, mas é ou foi muito real.
Quem não se lembra da garota mais bonita ou desejada do colégio?
Aquela que, ao passar, provocava suspiros nos garotos e bochichos nas meninas. Tudo que ela fazia era especial, mesmo que fosse algo muito ordinário.
Escolhia a dedo suas amigas, geralmente e obviamente, as mais feias que ela.
Tinha um prazer mórbido em judiar os corações dos meninos, que sonhavam com alguns segundos ao seu lado. Imaginavam como seria o perfume dela, como seria sua voz, o que gostava, qual a sensação de um beijo dela.
Tudo era muito fácil, e foi sendo assim durante toda sua juventude: sabia do seu poder de atração, o que precisava para laçar o bonitão da escola ou fora dela. Foi a primeira a ter um namorado com carro, e quando chegava era um acontecimento, até mesmo pelo fato dele ter alguns anos a mais que todos. 
Experimentou quase tudo antes de todos.
Com isso, ia se afastando cada vez mais da possibilidade de melhorar algo maior que o sorriso, que seu corpo perfeito, seus olhos penetrantes e cheiro avassalador. Ia se perdendo em não buscar sua beleza interior...
Foi se tornando uma pessoa mimada, arrogante e cheia de caprichos. Tudo tinha que ser do seu jeito e na sua hora!
Aos poucos, aqueles que queriam ver algo mais que um rosto bonito, foram se afastando. Mas ela, no auge de sua cegueira, não percebeu. Ou não queria perceber.
E, por coincidência, todos homens que eram atraídos por sua beleza, à princípio, chegavam à conclusão que não valia a pena levar essa embalagem sensacional, sendo que o produto era de péssima qualidade.
Sendo assim, foi se tornando rotina a grande rotatividade de namorados, todos eles escolhidos pelo mesmo critério pelo qual ela era escolhida: somente a beleza. E quando se juntam pessoas superficiais, o pior sempre pode acontecer.
Começou a ser maltratada por alguns, desrespeitada por outros e enganada por muitos. 
Não entendia o motivo e sofria. entrava em depressão e iniciava um processo de auto-destruição. O tempo se encarregava de levar o bem mais precioso dela e foi se amargurando. 
De forma alguma, entrava na sua cabeça que um homem precisa de uma mulher que o levante, que o valorize e o estime, além de admirá-lo. Para isso, ela deveria ser inteligente, segura, madura e com um humor à toda prova. 
Mas todo o tempo, perdido, em que só conseguia prestar atenção no seu espelho, não achava que isso era relevante.
Hoje vejo uma pessoa tentando juntar os cacos da beleza que um dia foram dela, rancorosa com o mundo que não reconheceu sua "perfeição" e virou as costas para suas vontades.
Percebi cedo os outros encantos das não-perfeitinhas e aprendi muito sobre como uma mulher pode se doar de corpo e alma.
Ainda bem que não fui escolhido por ela...


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