domingo, 16 de agosto de 2009

Paixão em Preto e Branco

Estou republicando um texto que saiu no blog do Galo, falando de um sentimento que sei que compartilho com muitos:


"No vestiário do Mineirão, os jogadores do Atlético se preparavam instantes antes de entrar no campo. O susto que tomei foi tão grande quanto a alegria em ver Telê Santana conversando com Cerezo, João Leite e Reinaldo! Pasmo, observei a cena, quando me dei conta de que eu estava ali, vestindo o uniforme do Galo, a belíssima camisa preta e branca! Estava confuso, me perguntando ainda como havia parado ali, quando Telê me chama pelo nome dizendo: “ô garoto, ainda não amarrou as chuteiras??? Vem aqui! Me levantei rápido, passei por Luizinho que bateu em meu ombro dizendo: é hoje hein! Chegando onde estava Telê, ali do lado dele Reinaldo se aquecia e cantava baixinho o hino do Galo, e me disse: está ouvindo? Lá fora, escuta, a massa cantando… Foi quando meus ouvidos se atentaram para aquele som, ecoando lá fora, que sensação incrível! Imaginei como estaria o Mineirão, quando Telê me trouxe de volta à tona: “é o seguinte, estou contando com você! Sua referência em campo, será Reinaldo e Cerezo, ouça o que eles te falarão, cola no jogo dos dois, que ce se sai bem ok? Nada de nervosismo, olha as feras que estarão com você, time do Cruzeiro é forte, mas confio em vocês certo? Cerezo completou com sua calma costumeira: “não entre afobado nas jogadas, espera a bola chegar até você, mas já pensando no que vai fazer quando estiver com ela nos pés”.
O Rei, irreverente, disse sorrindo: “adoro fazer gols neles, vou fazer o meu, e dar o passe pra você fazer o seu! Nisso, outra voz entrou em cena, em tom mais ríspido: “presta atenção no jogo moleque, não vai fazer cagada, se liga, não dá mole pra aqueles caras, se levar porrada, não te intimida, vou ta lá pra conferir!” Era Éder Aleixo, bem ao seu estilo estouradão, ainda bem que João Leite me tranqüilizou sorrindo: “o homi é brabo, mas é gente boa!” “Vamo lá pessoal, agora é guerra! Luizinho chamou pra roda, eram 10 grandes monstros, e eu ali entre eles, aos gritos de Galo um a um foi caminhando rumo ao túnel de acesso ao campo!
Subindo as escadas, o som vindo lá de fora foi aumentando, ao subir o último degrau, o barulho ensurdecedor da Massa, os fogos, as bandeiras, aquele grito uníssono cantado com toda força: “Gaaaaaaalôoooo, Gaaaaaaaalôoooo”, me deixou extasiado! Olhei pro escudo na minha camisa, beijei, sentindo como nunca tudo que representava aquele símbolo! Bati bola com Reinaldo no centro do campo, aquecendo, ele acenava pra massa que o aclamava: “Rei, Rei, Rei, Reinaldo é nosso Rei!” A visão do juiz no centro me trouxe pra realidade do jogo, do outro lado, o rival, a camisa azul, os inimigos a combater!
Começa o jogo, Eder toca para o Rei que recua para Cerezo. O Cruzeiro avança na marcação, e Toninho tranquilamente domina. As torcidas se inflamam nas arquibancadas, ouço o hino do Galo ser cantado, e sou interrompido na minha distração pelo grito do Eder: “presta atenção porra! Não vai entrar no jogo não, caramba? Não me perde outra bola dessas!” Era pra valer, era o jogo da minha vida, eu tinha que esquecer um pouco a beleza da torcida! Corri pro ataque, pedi a bola pro Cerezo que me acenou: “corre!” Me lembrei do que ele tinha dito no vestiário: “não entre afobado nas jogadas, espera a bola chegar até você, mas já pensando no que vai fazer quando estiver com ela nos pés” Cerezo lançou, rapidamente olhei pro lado e vi Reinaldo erguendo os braços, correndo entre os zagueiros cruzeirenses. Dominei a bola, e com rapidez toquei pra Reinaldo. Naquele momento, o que tanto ouvia meu pai dizer, presenciei com meus próprios olhos: a habilidade, a explosão, a genialidade do Rei traduzida ali diante de mim. Ele dominou, com rapidez passou entre dois marcadores. Do meu lado um jogador cruzeirense esbravejou: “pega ele, pára ele porra, não deixa ele chegar na área!” Em vão, pois Reinaldo driblou um terceiro marcador, deixou Raul sentado no gramado com uma ginga e chutou pra gol! Vi as redes se estufarem, e um barulho ensurdecedor nas arquibancadas! Corri pra abraçar Reinaldo, que veio em minha direção com a mão erguida em punho! Juntos vieram Cerezo, Luizinho, Paulo Isidoro: “o jogo ta na nossa mão, vamu colocar eles na roda”, bradou Eder! O Rei disse: “falta o seu garoto, a minha parte eu cumpri!” O jogo segue tenso no segundo tempo, como é todo clássico! Numa entrada mais forte do zagueiro cruzeirense, desabei no gramado, gritando de dor! Do chão vi Eder peitar o cara: “Ce ta de sacanagem, vou te quebrar se não ficar esperto fdp!” Vi também Telê à beira do campo, chamando Renato no banco! Me levantei, mancando e com dor, e gritei: “não precisa, quero continuar, não me tira do jogo!” Luizinho me chamou antes da cobrança da falta:
- Vai lá, dá o sangue garoto, precisamos fazer mais um, os caras tão pressionando lá atrás e olha essa Massa, eles merecem nosso sacrifício! Olhei mais uma vez pra torcida: que imagem fantástica: a Galoucura, a Galo Metal, Eficigalo, crianças, jovens, mulheres, senhores e senhoras venerando aquele time! Naquele momento, aquela imagem foi a expressão exata de uma paixão sem limites, e eu desejei estar lá, no meio deles e compreendi o sentido de fazer parte deste Clube: a torcida e o time do Atlético são duas partes em uma coisa só: alma e coração, um jamais existiria sem o outro! Me voltei pro jogo, Eder correu com a boa pela esquerda, a torcida se levantou na arquibancada, vi a explosão do chute do camisa 11, a bola viajou velozmente rebatendo no travessão, Reinaldo recebeu no peito o rebote! “Toca pra mim, toca pra mim”, gritei desesperado! O Rei ainda deixou no chão seu marcador antes de tocar pra mim, na frente do gol apenas toquei no canto. Gol! Atrás do gol, vi a torcida adversária que tanto havia hostilizado o Rei, ficar quieta, emudecida pelo imenso barulho que a torcida do Galo fazia! Cerezo me puxou dizendo: “que está fazendo aqui, a festa é lá do outro lado!” Corri abraçado a ele, pra festejar o gol com a Massa e cantar com ela o hino: Lutar, lutar, lutar, com muita raça e orgulho pra vencer, Clube Atlético Mineiro, uma vez até morrer!!!"

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