sábado, 3 de abril de 2010

Quero um amor para a vida toda!

Véspera de feriado. Rodoviária de BH lotada com todos os bichos catalogados ou não pelos cientistas. Pego meu ônibus rumo à Ribeirão Preto. Sento numa das primeiras fileiras e me preparo para virar picolé. O ônibus é um daqueles com o ar condicionado patrocinado pela Kibon, onde achamos que o carregamento de picolés vai no mesmo ambiente que os passageiros...
À minha frente, um casal de velhinhos se preparava para a viagem. Com pouco tempo, pude perceber que o velhinho era surdo e a velhinha tinha problemas respiratórios, já que os dois falavam numa altura que faria inveja à Galoucura e a velhinha coçava a garganta de 10 em 10 minutos...
Por essa pequena avaliação já imaginava o tipo de viagem que teria pela frente. Para piorar, sou motorista de mão cheia e detesto não estar no comando da direção, sabendo que ficaria acordado a noite inteira.
E durante o percurso tudo aconteceu conforme o previsto:
-Bem, você está dormindo - pergunta a velhinha quase gritando no ouvido dele.
-Hããããã???? - respondeu o velhinho, misturando surdez ao décimo sono em que se encontrava.
Segurei o riso e tentei me concentrar na paisagem para não parecer um doido rindo sozinho.
Parada em Divinópolis e a subida de mais alguns passageiros à bordo. Ao meu lado, se senta uma mocinha com seu perfume doce que "adoro", sua bolsa gigante e um belo travesseiro de coração. Com dez minutos de viagem, a mesma já se encontrava roncando, com a bolsa quase no meu colo e o travesseiro na minha cabeça.
-Bem!!!! Onde estamos? - pergunta a senhora para o coitado do velhinho que tentava dormir.
-Hãããããããã? - responde mais uma vez o senhor surdo.
-Está frio aqui! Massageie meus pés... - pede ela.
-Hããããããã?? - responde ele já massageando os pés dela.
Nesse exato momento pensei que a surdez dele era, até certo ponto, conveniente... Me imaginei com a idade dele e minha senhora me chamando a cada 5 minutos. Qual seria a solução? Ficar surdo, com certeza!
Mas, de repente, um momento que me emocionou:
-O que seria de mim sem você, meu velho? - diz ela afagando os cabelos grisalhos dele.
-Digo o mesmo... - responde ele a massagear os pés dela.
Pensei naquela frase em que se diz que amar é a arte de tolerar os defeitos do outro. E sorri imaginando que, se Deus quiser, terei minha velha me chamando a cada cinco minutos...

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