Várias janelas abertas na tela de 12.1" do notebook.
Msn ligado, orkut aberto, facebook na espera, skype ativado, blog com edição do novo texto e diversos outros programas.
De repente, tudo escuro.
Verifica-se a bateria, ajeita-se a tomada, aperta-se o botão power por vinte vezes... Queimou!
Assim começa a saga do notebook executivo.
Era necessária uma conexão à internet para procurar a assistência técnica mais próxima. Tarefa dificultada pela falta de um computador disponível...
Atravessa-se a cidade atrás de uma conexão e seu oráculo cibernético: Google!
Depois de muitos minutos no trânsito engarrafado, chega-se ao destino. Durante o trajeto, reflexões sobre como éramos felizes sem celulares, sem internet, sem redes sociais. Devia ser um tédio...
Para mera felicidade, a assistência era próxima. Volta-se ao trânsito caótico e em dez minutos estava na porta. Antes de subir, era necessária uma identificação simples ao porteiro: RG, CPF. Tipo Sanguíneo, Antecedentes Criminais, Imposto de Renda e Impressões Digitais.
Já na sala de espera da assistência, o técnico vai abrindo o notebook e desfazendo o sorriso inicial. A cada parafuso retirado da peça, uma expressão de angústia ia surgindo no rosto do Quase Monge:
-Chefe, a placa mãe queimou... É meio "carinho", sabe? - disse ele já desanimando o Quase Monge.
-Quanto mais ou menos? - pergunta já meio desesperado.
Quando o técnico lhe passou o preço, o desânimo bateu na sua cabeça. Era quase o preço do notebook novo.
Agradeceu e não autorizou o conserto.
Pensava em várias alternativas, mas não lhe vinha uma solução em mente. Então o notebook foi esquecido por algumas semanas. Na verdade, meses...
Numa dessas ironias do destino, conheceu o dono da maior assistência e revenda de notebooks da cidade. E contou sobre o seu problema. Esse homem pediu o notebook e garantiu o conserto.
Notebook entregue e depois de alguns dias, uma ligação informava o defeito e o valor do conserto: era um terço do orçamento inicial! E estimava a entrega da máquina em perfeito estado em uma semana.
Como diz o ditado, quando a esmola é demais o santo desconfia...
Depois de uma semana, nada de retorno sobre o conserto. Ligação para a assistência e ninguém sabia do paradeiro do tal notebook. Uns vinte minutos na linha e finalmente alguém atende parecendo saber algo. Disse que se informaria a respeito da data de entrega e garante ligar em duas horas.
Passam-se mais 3 dias e uma nova ligação. Um segundo rapaz pergunta quando iria ser retirada a máquina porque o conserto não foi autorizado e ele não poderia ficar responsável pela peça por tanto tempo.
Depois de vários exercícios de respiração, o Quase Monge explica que havia sim autorizado o conserto e que já haviam lhe informado o dia da retirada. O rapaz pede desculpas e pede mais alguns minutos para retornar com o prazo correto.
Dois dias se passam e um terceiro rapaz liga e informa que o notebook já está na CTI e que não demoraria a ser arrumado. Tenta confirmar o preço e para surpresa do Quase Monge, o preço foi majorado em trinta por cento.
Muitas conversas e explicações, e o rapaz concorda que o preço correto era o dado anteriormente.
E combina a entrega para dali a uma semana.
Na semana seguinte, nova ligação. O notebook havia sido consertado, mas teimava em queimar novamente...O Quase Monge então argumenta com o técnico que se ele voltava a queimar, não havia sido consertado.
O técnico então, calçando as sandálias da humildade, admite que o conserto era difícil e que estava sem previsão para o determinado reparo.
E pede mais tempo e paciência para o quase monge.
Atravessando quase todas as estações do ano, a saga do notebook executivo parecia não ter fim.
Mas uma ligação numa sexta feira tumultuada, reacendeu a esperança:
-Sr. Quase Monge? Seu notebook está pronto! - disse o técnico para a incredulidade do Quase Monge.
O tumulto daquela sexta não o deixou buscar seu valioso objeto de trabalho e garantiu que seria a primeira coisa a se fazer na segunda feira.
Mas como nada na vida do Quase Monge era tranquilo, seu carro pifou e ele deixou o notebook para depois do almoço.
Almoçou rapidamente e se dirigiu para a assistência. Chegou no balcão e foi recebido por um quarto rapaz que abriu um sorriso:
-Finalmente, hein chefe? - já lhe entregando o notebook.
Ao ligar o notebook executivo, o Quase Monge percebeu que havia algo errado. Não havia sistema operacional na máquina. Olhou para o técnico que prontamente dizimou sua dúvida:
-Ia perguntar agora pro senhor porque o HD foi retirado... - disse placidamente o técnico.
-Não retirei o HD! - responde o Quase Monge.
A expressão e a cor do técnico mudaram repentinamente. Passaram do "curti meu final tomando cerveja" ao "fudeu, tem velório o dia inteiro" e como não podia deixar de ser, ele pediu um segundo ao Quase Monge e foi chamar outras pessoas.
Sabe aquelas séries da tv à cabo que nenhum médico queria dar notícia ruim ao familiar do paciente?
Era exatamente isso que estava acontecendo. A sala da assistência técnica ficou lotada de repente.
Logo o HD do notebook, onde estavam gravados vários anos de trabalho. E todos os backups estavam perdidos nas constante mudanças do Quase Monge.
Fotos, filmes, músicas, imposto de renda, dados da empresa, dados pessoais, extratos bancários... Simplesmente tudo!
-Já cansei de historinha! - disse o Quase Monge.
O funcionário, numa frustrada tentativa de controlar a situação, pergunta:
-Que historinha? O senhor, por acaso, está nervoso? - elevando um pouco sua voz.
O Quase Monge respira fundo, conta até 3, olha profundamente nos olhos de todos e diz:
-Pelo contrário, estou calmo. Porque se estivesse nervoso, pularia esse balcão, quebraria todos os membros superiores e inferiores de todos, arrancaria o coração de cada um e empalaria seus corpos na Praça Sete...
O silêncio tomou conta da sala.
Um novíssimo HD com o sistema operacional mais moderno do mercado está sendo instalado no notebook executivo do Quase Monge.
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