quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Pelas estradas da vida...

Mário era uma pessoa inusitada. Cerca de quarenta anos, meio forte, meio gordo. Aparentava ser menor que sua real estatura devido ao tronco largo. Separado, Mário vivia em todas as festas e boates de BH, conhecia todos, dos garçons aos donos. Figura simpática e fácil na noite, se enturmava com facilidade com qualquer um.

Conheci Mário numa dessas noites. Possuía um Opala, todo sambado, com a lateral inteira amassada. Mas era divertido porque ele deixava todos darem um "pau" no Opalão.

Começamos a sair quase todos os dias. Para mim, era interessante saber da vida de uma pessoa bem mais velha que eu, sem aquela sensação de conversar com um pai, sem receio de falar sobre tudo e perguntar de tudo o que um rapaz de dezessete anos gostaria de saber.

Aos poucos, fui conhecendo a vida privada de Mário. Apaixonado pela ex-mulher, vivia num apartamento pequeno, rodeado de garrafas de uísque e armas de todo o tipo. Dizia acordar as cinco da matina todos os dias, nadava, corria e depois trabalhava o dia inteiro.

Mário possuía um esquema nas boates: pegava sempre duas cartelas de consumação, e pagava o garçom um terço da conta efetiva, o que garantia uma noite de excessos, regadas a muito álcool e porções variadas. Não quero dar idéias aos mais tentados, mas o esquema era bom!

Com tudo isso, crescia a amizade. Comecei a sair com uma moça, e ela que adorava Mário e os outros amigos, nos chamou para seu sitio em Itabirito, cerca de 100 km de BH.

A viagem, que tinha tudo para ser maravilhosa, começou mal. Na chegada haviam dois caminhos para se chegar ao tal sítio e meus amigos, Caio e Cássio, juntamente com a namorada do primeiro, levavam Mário, não é que escolheram o caminho errado? O carro, um dos primeiros carros "mil" do mercado, não conseguia subir a Ladeira com o peso de Mário e Cássio!

Mas não era uma subida comum. Pra quem conhece bem Minas, sabe quando digo que era uma "pirambeira"! Notamos que eles não chegavam de jeito nenhum, então fomos procurá-los no tal caminho errado. Chegando lá, uma cena inusitada: Caio subindo aos trancos e barrancos com seu Fiesta e, lá embaixo, lá embaixo mesmo, Cássio, com seu inseparável cigarro e Mário com uma daquelas facas de "Rambo" combinando com uma bermuda do exército! Ambos aos berros. E Cássio, arfando por causa do cigarro e da subida, dizia que nunca tinha visto uma "montanha" como aquela!

Arrefecidos os ânimos, chegamos ao sitio, onde Cássio prontamente se engraçou com a prima do meu rolo, prima essa no alto dos seus 14 anos! Não poderia dar certo. E ainda pra completar, Cássio ainda tinha um xará da família do meu rolinho, louco de jogar pedra! A família inteira reunida e Cássio de olho na priminha. Combinamos de descer até um rio que ficava distante uns 2 km da casa, pra que Cássio pudesse conhecer melhor a pobre vitima.

Enquanto Mário ficou com o restante da família, falando de artes marciais e exército, descemos ao fatídico rio. Chegando lá, todos nós pulamos no rio, nadamos e rimos à beça. Cássio já preparava o bote quando, de repente, escutamos o pai da priminha aos berros procurando por ela. Cássio desesperado foi para debaixo da ponte que existia no lugar, ficando somente com o nariz (proeminente, diria) e seus óculos Oakley brancos para fora da água... Parecia um jacaré albino! Acho que nunca tinha rido tanto na minha vida!

Passado o susto, retornamos a casa e logo Mário veio desesperado me chamar para dentro de um dos quartos.

-Olha só - dizia ele - o xará do Cássio adora puxar um fumo e o pior, debaixo da janela do nosso quarto. Se sua pseudo sogra entrar no quarto, vai achar que somos nós que gostamos da erva do capeta!

Preocupado, chamei meu rolo e expliquei a situação. Ela me disse que era super normal aquela atitude do xará do Cássio! Ficamos super preocupados e no resto do dia bebemos para esquecer.

Mário resolveu cair matando na cachaça com a família, enquanto o xará do Cássio se matava na erva perigosa! E foi assim durante todo o dia...

Hora de ir embora, quem estava em condições de dirigir? Minha pseudo sogra disse:

-Deixa ele ir dirigindo, afinal você tem carteira, né? - apontando para o pobre coitado que lhes escreve.

-Tenho! - disse em alto e bom som. Afinal, era melhor eu ir dirigindo sem habilitação a confiar minha vida à um ex-Gi Joe bêbado ou ao protótipo do Marcelo D2...

Estrada cheia, à noite, olhava para trás e via a seguinte configuração: minha pseudo sogra assobiando, o xará do Cássio com os olhos semi-abertos e o Mário babando no ombro do seu mais novo amigo...

De repente, todos os carros vindos em sentido contrário vinham piscando faróis. Blitzen na certa, pensei. Por coincidência, me deu uma terrível dor de cabeça... Quem seria meu substituto no volante? Recaiu sobre o Bob Marley fajuto do xará do Cássio. Parei, trocamos a direção e nesse ponto começou meu arrependimento...

Comidas de faixa, freadas bruscas e cada piscada de olhos dele demoravam 10 segundos! Foram os 70 km mais longos da minha vida.

Como podem perceber, estou vivo para contar a estória. Já em solo seguro, me despedi de todos e fui para casa com um peso nas costas. Comecei a gostar do meu rolinho...

Dias depois ela me comentou em tom de segredo que sua mãe dissera que gostava de todos, menos do ex-soldado fumador de maconha! Tive que fazer uma escolha. E nunca mais vi o Mário!

Descobri pouco tempo depois que tinha feito a escolha errada. Mas não consegui encontrar mais o Mário.

Segundo Cássio, ele o viu no sinal de trânsito, juntamente com sua ex-mulher...

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