Falar de carros no Brasil é como falar de mulher e futebol.
Me lembro, com riqueza de detalhes, da minha paixão por carros na adolescência.
Por este motivo, devo ter um bocado de estórias com esse assunto.
Mas uma que não posso deixar de registrar é a do Omega do Seu Abreu.
Me lembro, com riqueza de detalhes, da minha paixão por carros na adolescência.
Por este motivo, devo ter um bocado de estórias com esse assunto.
Mas uma que não posso deixar de registrar é a do Omega do Seu Abreu.
O Omega, pra quem não lembra ou não tem idade para isso, foi um ícone nacional na década de 90. E lá estava, na garagem dele, um modelo vinho completo, lindo e cobiçado pela grande maioria das famílias naquele tempo.
Dar uma volta no carrão era chamar atenção de metade do bairro e, de tabela, das meninas, que achavam o máximo ver meninos ao volante dos carros dos pais.
Dar uma volta no carrão era chamar atenção de metade do bairro e, de tabela, das meninas, que achavam o máximo ver meninos ao volante dos carros dos pais.
Os tempos eram outros, não havia o novo Código de Trânsito Brasileiro, que surgiria em meados de 98, o tráfego de veículos não era tão intenso como o de hoje, principalmente nos bairros, onde ainda se podia andar de bicicleta, mobilete, motos ou qualquer outro veículo que queimasse gasolina!
Então, o sábado era especial: passar o dia esfregando os carangos dos velhos e rezar pela boa vontade deles em deixar-nos dar uma voltinha no quarteirão, voltinha essa, que em segredo, era estendida por todo o bairro. E na casa do Seu Abreu não era diferente. Seus filhos, Raul e Vítor, já acordavam na pilha pra poder andar no tal do Omega. E juntava a molecada inteira do bairro na rua do Seu Abreu, para jogar bola, empinar motos, bicicletas, xavecar as meninas ou fazer nada (vadiagem, crime previsto no Código Penal).
Todos na casa de Seu Abreu almoçaram bem, e como de sempre, ele foi dar uma cochilada. Nisso, o mais novo, Vítor, encheu o saco do homem pra poder lavar o tal do Omega. Tanto insistiu, que conseguiu o que Seu Abreu só liberava para o mais velho. E lá foi o menino se preparando para a lavagem do século... Balde, esponja de cozinha, detergente ou sabão em pó (naquela época não eram comuns os xampús automotivos) e groselha com Coca-Cola para os pneus!
Calouro na profissão de lavador de carros, Vítor se esqueceu de perguntar como se lavava um carro, o que, para muitos, é só meter água e sabão, depois enxaguar. A experiência depois mostrará que não é tão simples assim.. Vítor esfregou todo o Omega e sua pintura perolizada com o lado verde de uma esponja de cozinha, lado esse utilizado para tirar o grosso da sujeira mais difícil! Imaginem o resultado: o carro ficou branco! E Vítor mais branco ainda! "Deve ser sujeira, vou esfregar mais!" - pensou o pobre garoto.
Já deseperado, contou para seu irmão a proeza que acabara de fazer. Pensaram no que fazer para não serem castigados pela vida eterna. Mas não teve jeito, Seu Abreu acordou e viu o "serviço" que seu caçula tinha feito na sua máquina. Xingou, esbravejou, amaldiçoou, prometeu acabar com a linhagem da família naquela tarde...
No fim, nada disso aconteceu. Falou mais alto a maior paixão do Seu Abreu: o amor pelo filhos!
Mas uma verdade terei de contar: Vítor até hoje não pode lavar nenhum carro da família...
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